segunda-feira, 14 de março de 2011

GUERRA FRIA NO TABULEIRO DE XADREZ
(Um Pouco de História...)


A Guerra Fria foi um período homogêneo e único na História do Mundo, chegando a ser entendida por Historiadores, como a “Terceira Guerra Mundial”. Essa expressão era utilizada para descrever o estado de forte tensão político-militar entre o bloco Ocidental, liderado pelos Estados Unidos e o bloco de Leste, cuja posição de líder era ocupada pela antiga União Soviética (URSS), que se manteve viva durante quase toda a segunda metade do século XX. Embora nunca se tenha chegado ao confronto armado entre os dois blocos, as agressões mútuas, entre as quais se destacam a corrida aos armamentos, a intervenção em diversos conflitos, como a Guerra da Coréia, a Guerra do Vietnam, a Guerra de Angola, a Crise dos Mísseis em Cuba e a questão de Berlim, faziam parecer que um novo conflito estava iminente.
    As duas Guerras Mundiais puseram fim à longa hegemonia européia, dando origem a uma Nova Ordem Mundial e uma nova divisão no planeta. Esse período teve a duração de quarenta e cinco anos que se estendem desde o lançamento das duas bombas atômicas, em Hiroshima e Nagazaky, até o final da União Soviética, com o triunfo do capitalismo.
Nesse contexto, Estados Unidos e União Soviética iniciaram conflitos nas mais diversas áreas, a exemplo da corrida armamentista citada anterioemente, que teve como principal conseqüência a dissipação das armas por todo o mundo; da corrida espacial, onde os soviéticos conseguiram enviar o primeiro ser vivo ao espaço (a cadela Laika), ferindo profundamente o ego norte-americano, que posteriormente enviou o primeiro homem à lua, além de uma vasta produção cinematográfica de ambos os lados, onde esse confronto era retratado de forma nítida nos personagens. Nos filmes soviéticos, havia um ataque ao capitalismo e aos males causados por ele, ao passo que os norte-americanos e os países que aderiram à sua economia de mercado vibravam com a atuação(e vendas) do Superman e do Capitão América, criados no intuito de representar os Estados Unidos como “salvador do mundo”.
Um campo muito importante que não é comentado, mas que havia um embate bastante forte entre soviéticos e norte-americanos é o xadrez. Em 1972 foi disputado em Reykjavich, capital da Islândia, o match pelo Campeonato Mundial de Xadrez envolvendo um norte-americano, Bobby Fischer e um Soviético, Boris Spasski, atual campeão mundial da época. Como o xadrez representava a capacidade intelectual, a inteligência, a ciência, a arte, ou seja, todas expressões culturais, artísticas e intelectuais, a vitória significaria uma grande conquista para o bloco vencedor, já que este a usaria  para sobrepujar a capacidade intelectual do inimigo. Neste sentido, o que estava em jogo neste combate era a soberania intelectual das nações. Essa situação era completamente nova no cenário mundial, pois os dois países tinham reais chances de saírem vitoriosos, uma vez que os soviéticos eram os atuais campeões do mundo, e contavam com Boris Spassky e os Estados Unidos encontravam-se bem representados pelo lendário Bobby Fischer. Havia uma oportunidade única para que o trono fosse adquirido. Para que o confronto ocorresse, foram feitos diversos acordos entre o alto escalão dos dois governos, desde ao local de jogo, um ambiente neutro, até a posição das cadeiras. A partida foi marcada pela geniosidade de Fischer. Ele reclamava a todo instante, desde uma câmera de vídeo que, segundo ele, estavam tirando a sua concentração, até o estofado de sua cadeira.
Fischer ameaçou abandonar a partida após um desentendimento com um dos organizadores. Essa estratégia serviu para desviar a atenção do seu oponente e para conseguir tempo para raciocinar. Desse modo, ele conseguiu sair de uma posição de desvantagem no jogo e vencer Boris Spassky de uma maneira esmagadora, tornando-se o primeiro e único norte-americano Campeão Mundial de Xadrez.
Desta maneira, podemos evidenciar as diversas áreas e as diversas situações em que soviéticos e norte-americanos travavam verdadeiras batalhas um contra o outro. As circunstâncias em que esses combates aconteciam nos possibilita imaginar a dimensão dos investimentos que eram feitos no intuito de uma nação superar a outra. Enquanto o mundo assistia a criação da ONU, da OTAN, do Pacto de Varsóvia, do Plano Colombo e de outros mecanismos ataque/defesa de ambas as nações, o conflito entre elas se enveredava por caminhos menores, mas não menos importante, cujo  sentido era tentar mostrar ao mundo quem era mais forte, mais poderoso e, sobretudo, detinha o maior coeficiente intelectual do mundo.